O Jornalismo e a Alemanha Nazista

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A Associated Press (AP) foi formada em maio de 1846 por cinco jornais da cidade de Nova York, para reunir seus recursos e dividir os custos da cobertura da Guerra Mexicano-Americana.

O empreendimento cooperativo provou ser um sucesso, e a AP cresceu e se expandiu ao longo dos anos, à medida que outros meios de comunicação se juntaram. Hoje, a AP é de propriedade de seus jornais membros e estações de TV e rádio, que contribuem com histórias para a AP e usam material escrito por jornalistas de sua equipe.

De forma geral, a AP tem sido um modelo de bom jornalismo, ganhando 52 Prêmios Pulitzer desde que o prêmio foi estabelecido, em 1917. No entanto, um desvio significativo do bom jornalismo ocorreu durante os anos de Hitler, quando a AP colaborou com as autoridades nazistas para ter suas reportagens na Alemanha facilitadas.

TERCEIRO REICH

Quando Hitler chegou ao poder em 1933, ele começou a exercer pressão sobre as organizações internacionais de notícias que operavam no Terceiro Reich para se adequarem aos padrões nazistas. Um desses padrões foi a Lei do Editor, promulgada pelo novo regime para limitar estritamente o que os jornais podiam publicar.

Também restringiu a profissão de jornalista aos arianos e exigiu que os judeus fossem removidos das redações. Os jornalistas estrangeiros que trabalhavam na Alemanha viram-se assim chamados a recolher e enviar notícias enquanto eram acolhidos por um governo que não queria nada com jornalismo independente e objetivo.

A maioria das organizações internacionais de notícias se recusou a cumprir essas condições e se retirou da Alemanha em vez de sacrificar sua integridade jornalística e decência. A AP optou por ficar por perto e, para aplacar as autoridades nazistas, demitiu todos os seus funcionários judeus locais.

Também se envolveu em autocensura e começou a ajustar suas reportagens para manter os nazistas dóceis. Entre esses ajustes estava a minimização da discriminação diária sofrida pelos judeus no Terceiro Reich e, no final de 1933, a AP se recusava a publicar imagens que retratassem tal discriminação. Funcionou.

Em 1935, a maioria das organizações internacionais de notícias da época, como Wide World Photos e Keystone, foram expulsas da Alemanha pelas autoridades nazistas, mas a AP era uma das poucas que ainda tinham permissão para operar no país. Encontrou-se, então, na situação presumivelmente vantajosa de ser o principal canal para reportagens e fotografias fora do Estado totalitário.

O TRABALHO DA HISTORIADORA

A historiadora Harriet Scharnberg mostra que a AP só conseguiu conservar seu acesso às informações participando de uma colaboração mutuamente benéfica com o regime nazista.

A agência abriu mão do controle de sua produção ao assinar o chamado Schriftleitergesetz  (lei do editor), prometendo não publicar qualquer tipo de material “destinado a enfraquecer a força do Reich no exterior e em seu país.”

EUA NA GUERRA

Depois que os Estados Unidos entraram na guerra em dezembro de 1941, o escritório da AP em Berlim foi fechado e seus funcionários americanos foram presos e internados em campos de concentração, antes de serem trocados por prisioneiros. A AP norte-americana fez acordos para receber do Terceiro Reich fotos da Europa ocupada e, em troca, forneceu aos alemães fotos dos seus bancos de dados. As imagens da AP fornecidas à Alemanha apareceram nas principais propagandas nazistas, algumas foram alteradas e quase todas as legendas foram modificadas para se adequar ao ponto de vista oficial do Terceiro Reich.

O que disse a AP – A empresa destacou o valor histórico das imagens, mas disse não ter se envolvido na publicação direta do material. Além disto: “não tínhamos conhecimento de qualquer acusação de que o material poderia ter sido diretamente produzido e selecionado pelos ministérios de propaganda nazista.”, até a investigação da historiadora Harriet Scharnberg.

Referência

SCHARNBERG, Harriet. Das a und p der propaganda. Associated Press und die nationalsozialistische Bildpublizistik.

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