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antropofagia
"(...) cada qual denomina bárbaro o costume que não pratica na própria terra". Michel Montaigne

O canibalismo, o consumo de carne humana, ocorreu em todos os continentes ao longo dos tempos, mas nunca de forma sistemática ou contínua. Declinou a partir do terceiro milênio a.C, com o surgimento das grandes civilizações da Mesopotâmia, Egito e Vale do Indo. Embora tenha continuado no continente americano e na Oceania até o século XVI, a prática tornou-se rara e um tabu cultural.

A antropofagia é absolutamente proibida nas sociedades pós-industriais e muitos países nem sequer consideraram incluí-la em seus códigos penais. Durante as grandes viagens exploratórias do século XVI, os europeus descobriram a antropofagia no continente americano, depois na África e Oceania. Os conquistadores, colonos, missionários, viajantes e exploradores ficaram horrorizados e fascinados ao mesmo tempo, e contaram os fatos em detalhes, às vezes dando um giro fantasioso às coisas.

COLONIALISMO

O canibalismo é tanto um ato quanto uma metáfora que ilustra o poder do universo da imagem colonial.

O ato canibalístico capturou o imaginário dos colonizadores europeus em seu primeiro contato com os habitantes do Novo Mundo, desde as culturas mesoamericanas astecas até as brasileiras Tupinambá.

Histórias recentes mostraram que os colonizadores europeus exageraram amplamente seus relatos sobre o canibalismo do Novo Mundo.

Não era um ritual comum aos grupos indígenas nas Américas, como os relatos dominantes dos conquistadores nos fizeram acreditar. Em vez disso, os europeus projetaram narrativas e imagens desta forma de violência nos habitantes para justificar a colonização.

ANTROPOFAGIA E CANIBALISMO

Os etnólogos fazem uma distinção entre antropofagia, o ato de comer carne humana, e o canibalismo, que sempre é praticado em grupo e é considerado uma instituição ritual e social.

O termo “antropofagia” foi emprestado no século XV do grego antigo “antropos” (homem) e “fagein” (comer). Mais tarde, a palavra “canibalismo” veio do espanhol canibal, uma alteração de cariba, que se referia aos habitantes do Caribe e significava “resistente”. Sob influência espanhola, assumiu o significado de “selvagem” ou “cruel” e designou antropófagos.

ENDOCANIBALISMO E EXOCANIBALISMO

O canibalismo existe em duas formas separadas que são mutuamente exclusivas: endocanibalismo e exocanibalismo.

No exocanibalismo, as vítimas pertencem a outro grupo social, inimigos mortos em combate ou prisioneiros de guerra, com o objetivo de se vingar ou assimilar virtudes como força ou coragem. Nas Ilhas Fiji, por exemplo, as pessoas não comiam inimigos considerados covardes.

Por outro lado, endocanibalismo refere-se ao consumo ritual do falecido do próprio grupo social, para garantir que o espírito do morto permaneça entre os vivos, a fim de perpetuar sua presença ou manter a continuidade entre a vida e a morte.

Esse canibalismo funerário pode consistir em comer os ossos grelhados, moídos ou diluídos, de outros membros da tribo. A maioria dos pesquisadores acredita que a antropofagia tem um aspecto mágico-religioso, ligado à representação da vida e da morte e aos cultos dos ancestrais.

Essa prática contribui para a organização social e a unidade de um grupo. De muitas maneiras, o consumo de carne humana exibe as mesmas características “reguladoras” e rituais que o consumo de carne animal, ou seja, cria laços sociais, sejam horizontais, entre os vivos, ou verticais, entre gerações.

Referências

1) De Castro, Eduardo Batalha Viveiros. Araweté: Os Deuses Canibais. Rio de Janeiro: ANPOCS, Jorge Zahar Ed., 1986.
2) Vilaça, Aparecida. Comendo como gente: formas de canibalismo Wari. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ, 1992.

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